
Weluma foi muito mais que uma ex-Chacrete. Ela foi resistência viva. Nos anos em que a palavra “travesti” era sinônimo de prisão, tortura e apagamento, ela ousou existir, dançar e se apresentar para milhões de brasileiros, disfarçada entre as Chacretes, mas sendo o que sempre foi: uma mulher travesti com dignidade e talento.
Batizada por Elke Maravilha, outro símbolo de liberdade e amor à diferença, Weluma desafiou não só a repressão policial como também o moralismo da TV brasileira. Por muitos anos, o segredo de que uma travesti dividia o palco com as "mulheres de verdade" foi guardado a sete chaves. Mas o corpo dela, sua existência, já era por si só um ato revolucionário.
Weluma resistiu à violência do Código 59 (o cruel “crime de vadiagem” que caçava travestis nas ruas), à mutilação, à tortura policial, e mesmo assim, nunca perdeu a capacidade de sorrir e brilhar. Ela foi além. Foi para Paris, criou sua própria casa de espetáculos, a Le Galaxie, se tornou a primeira travesti brasileira a apresentar um programa na TV francesa ao lado de Patrick Sebastian, levando nossa cultura, nosso corpo trans, nosso samba, e nossa coragem para o mundo.
Ela dividiu palco com Coccinelle, uma das pioneiras da visibilidade trans na Europa. E não parou por aí: em 2008, foi homenageada com o Prêmio Diversidade Sexual pelas mãos do então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia. Até seus últimos dias, foi Diretora Geral da ASTRA/Rio, lutando por direitos, por visibilidade, por dignidade.
Weluma era filha de empregada doméstica. Travesti desde a infância. Profissional do sexo em tempos onde ser trans era quase uma sentença de morte. Mas também artista, dançarina, apresentadora, e símbolo da glória trans. Sua vida não cabe nos rótulos do sistema. Ela foi além, porque sempre soube que viver é um ato político.
Weluma, onde você estiver, saiba: sua existência valeu. E viver, como você disse, valeu muito.
Nós, suas irmãs, nunca esqueceremos.
Porque somos feitas da mesma centelha.
E como você, não temos vergonha de ser felizes.
Descanse em luz, estrela travesti.
E que sua memória ecoe como tamborim na avenida da história trans brasileira.
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