Falece Welluma Brown, a Travesti Chacrete do Brasil

O Brasil Acorda de Luto: Morre Weluma Brown, a Travesti que Desafiou a Ditadura com Glitter, Coragem e História

Por Luciana Kimberly Dias do Mundo T em São Paulo
Falece Welluma Brown, a Travesti Chacrete do BrasilHoje o mundo travesti amanheceu de luto. Perdemos Weluma Brown, nossa irmã de luta, militante incansável, artista brilhante, e uma das primeiras travestis a brilhar na TV brasileira durante a Ditadura Militar. Ela estava internada no Hospital Vereador Melchiades Calazans, em Nilópolis (RJ), com queimaduras graves causadas por um acidente doméstico. Sua partida deixa um vazio imenso, mas também um legado que nenhuma história escrita pelo sistema será capaz de apagar.

Weluma foi muito mais que uma ex-Chacrete. Ela foi resistência viva. Nos anos em que a palavra “travesti” era sinônimo de prisão, tortura e apagamento, ela ousou existir, dançar e se apresentar para milhões de brasileiros, disfarçada entre as Chacretes, mas sendo o que sempre foi: uma mulher travesti com dignidade e talento.

Batizada por Elke Maravilha, outro símbolo de liberdade e amor à diferença, Weluma desafiou não só a repressão policial como também o moralismo da TV brasileira. Por muitos anos, o segredo de que uma travesti dividia o palco com as "mulheres de verdade" foi guardado a sete chaves. Mas o corpo dela, sua existência, já era por si só um ato revolucionário.

Weluma Brown
Todas a Chacretes da época reunidas para tradicional foto

Weluma resistiu à violência do Código 59 (o cruel “crime de vadiagem” que caçava travestis nas ruas), à mutilação, à tortura policial, e mesmo assim, nunca perdeu a capacidade de sorrir e brilhar. Ela foi além. Foi para Paris, criou sua própria casa de espetáculos, a Le Galaxie, se tornou a primeira travesti brasileira a apresentar um programa na TV francesa ao lado de Patrick Sebastian, levando nossa cultura, nosso corpo trans, nosso samba, e nossa coragem para o mundo.

Ela dividiu palco com Coccinelle, uma das pioneiras da visibilidade trans na Europa. E não parou por aí: em 2008, foi homenageada com o Prêmio Diversidade Sexual pelas mãos do então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia. Até seus últimos dias, foi Diretora Geral da ASTRA/Rio, lutando por direitos, por visibilidade, por dignidade.

Weluma era filha de empregada doméstica. Travesti desde a infância. Profissional do sexo em tempos onde ser trans era quase uma sentença de morte. Mas também artista, dançarina, apresentadora, e símbolo da glória trans. Sua vida não cabe nos rótulos do sistema. Ela foi além, porque sempre soube que viver é um ato político.

Ela nos deixa um legado que não está nos livros didáticos, mas pulsa em nossos corpos, em nossas histórias, nas calçadas, nos palcos e nas trincheiras que ocupamos com nosso salto alto e a cabeça erguida.

Weluma, onde você estiver, saiba: sua existência valeu. E viver, como você disse, valeu muito.

Nós, suas irmãs, nunca esqueceremos.
Porque somos feitas da mesma centelha.
E como você, não temos vergonha de ser felizes.

Descanse em luz, estrela travesti.
E que sua memória ecoe como tamborim na avenida da história trans brasileira.

Kimberly é uma Blogueira, Criadora de Conteúdos e Travesti, natural da cidade de Fernandópolis, interior de SP, Voluntária na militância pelos Direitos, Cidadania e Visibilidade Positiva das Travestis e Transexuais em Redes Sociais. 

✉ Contato: luciana.kimberly@yahoo.com



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