Maquiador, vedete, cantora, atriz, jurada de TV, apresentadora... Artista, e ponto final. De Astolfo Barroso Pinto a Rogéria, aquela que é conhecida como “o travesti da família brasileira” está prestes a completar 70 anos de vida e 50 de carreira. E as comemorações não vão se limitar à data do aniversário, 25 de maio. “Quinta-feira, vou ganhar festa na boate Le Boy. No dia seguinte, fui convidada para assistir a ‘O lago dos cisnes’ no Municipal. No sábado, farei um bolo com champanhe para poucos e íntimos. Meus amigos queriam fechar o Leme para festejar em grande estilo... Imagina?!”, conta uma modesta Rogéria, celebridade no bairro carioca onde mora.
Não para por aí: dia 12 de junho, a loura estreia à frente do talk show “Com frescura”, no Canal Brasil. Serão 15 minutinhos de entrevistas com “gente interessante”. “Faço a linha livre: fale o que quiser falar. Não pretendo arrancar confissões tão íntimas”, afirma Rogéria, que neste bate-papo, ao contrário, faz revelações sobre vida e carreira.
Você gosta de ser chamada de travesti, transformista?
Não importa, não tenho esse tipo de problema. Gosto quando me chamam de artista. Nunca desejei ser mulher, apenas gosto de parecer uma. Sou Rogéria, com muito orgulho de preservar o Astolfo Barroso Pinto.
E por que não ser transgênero?
A mulher que mais amei na vida, minha mãe Eloá Barroso, só tinha essa preocupação: que eu quisesse me operar. Isso nunca me passou pela cabeça. Pra quê? Se a tampa da privada estiver abaixada, sento para fazer pipi. Se não, faço em pé com a maior naturalidade.
Quando Astolfo entra em cena?
Já me meti em brigas feias com homens para defender meninas que estavam sendo importunadas. Sou a rainha das “gravatas”. Ser gay não anula o fato de eu ser homem. Meto a porrada mesmo! Com essas unhas, então, você imagina...
Quando descobriu ser homossexual?
Com 3 aninhos, todos já sabiam que eu era gay. Descia as escadas puxando um pano, como se fosse um vestido longo. Mas tinha pavor de bonecas! Ficava perto das meninas enquanto podia pentear o cabelo delas. Se não, ia para o lado dos meninos brincar de Tarzan. Eu era a Jane, lógico. Mas nenhum deles me tocava. Os garotos tinham medo de mim. O primeiro beijo eu jamais vou esquecer. Ele tinha 32 e eu, 15.
Já amou de verdade?
Uma única vez. Me casei aos 19 anos, mas ele quis que eu escolhesse entre o amor e o show business. Óbvio que fiquei com os holofotes! E, não vou mentir, traí horrores. Tenho alma de homem, sacana.
Está solteira?
Vivo sozinha, mas tenho “lovers” (amantes). Quando quero alguém, sei onde conseguir. Gosto de escolher.
Que tipo de homem te atrai?
Gosto dos falsos magros, com vinte e poucos anos e “mala” grande. Tamanho é documento, sim. E não suporto homem perfumado, mando logo ir tomar banho. Perfumada, só eu. Homem tem que ter cheiro de homem.
Qual a importância do sexo na sua vida?
Tento me convencer de que não posso ter sexo todo dia, embora gostaria. Às vezes, sozinha é melhor que acompanhada.
Já usou estimulante sexual?
Já, e foi uma decepção. Me deu um sono... caí desmaiada. Foi ridículo! Sexo é cabeça.
Nunca se atraiu por mulheres?
Não. Amo lidar com elas, mas não gostaria de ser bissexual. Nós nos respeitamos.
Como mantém a feminilidade?
Nunca tive barba, um pelinho ou outro eu eliminei com eletrólise. Silicone, não pus. Tomei três injeções de hormônio na vida, e os seios ficaram naturalíssimos. Nunca precisei de sutiã! Cabelos, você tem ou não. E a temporada que passei em Paris fez muito bem aos meus. São o meu xodó. A primeira coisa que faço quando chego em casa é enrolá-los. Mas glamour eu só tenho no palco. Acham que durmo com penhoar de seda. Na verdade, uso uma camisola velha e furada.
Os homens preferem as louras?
Sempre. As mulheres também. Aos 12 anos, quando vi Marilyn Monroe, disse para mim mesma: é essa mulher glamourosa que quero ser. Por acaso, ela é Gêmeos com ascendente em Leão, como eu.
Envelhecer é ruim?
Com saúde, não. Enfrento minhas rugas, tenho medo das “puxadinhas”. Quando me vejo horrorosa no espelho, penso que é a luz que não favoreceu.
Teme a morte?
Só gostaria que ela me avisasse três horas antes. E que não viesse na forma de caveira, com foice, mas como o fantasminha Pluft. Eu me arrumaria toda. Queria ser enterrada num caixão de vidro. Antes que endurecesse, as bichas me esticariam. Meu irmão faria a maquiagem. Na lápide, estaria escrito: “Aqui jaz a maior estrela do transformismo nacional”.