Hoje, o Brasil se despede de uma das personalidades mais icônicas da televisão brasileira, Silvio Santos. Com uma carreira que atravessou décadas, Silvio Santos marcou gerações e se consolidou como um dos maiores comunicadores do país. Embora sua trajetória tenha sido repleta de momentos memoráveis, é importante refletir sobre seu impacto, especialmente no contexto da representatividade Trans na mídia.
Por Luciana Kimberly Dias - Mundo T em São Paulo
Os anos 80 e 90 foram tempos diferentes, uma era em que o que hoje consideramos politicamente incorreto, em muitos casos. Silvio Santos, com seu estilo único e carismático, foi responsável por levar ao público um conteúdo diversificado e, por vezes, polêmico. Entre os muitos quadros que apresentava, o "Show de Calouros" foi um marco para a comunidade LGBTQIA+, especialmente para as Travestis.
Naquela época, em um Brasil ainda mais conservador, o "Show de Calouros" foi uma das raras plataformas onde Travestis e Mulheres Trans podiam se apresentar e serem vistas pela sociedade. Para muitos que cresciam assistindo à televisão, era através daquele quadro que começavam a enxergar a possibilidade de ser quem realmente eram. Para uma criança ou pré-adolescente como eu, nos anos 80, que se identificava com a identidade trans, ver alguém semelhante a si na tela tinha um impacto profundo, e a possibilidade de sermos mulheres,
Silvio Santos, mesmo que talvez sem intenção, acabou por abrir uma porta importante. Ele proporcionou à sociedade a oportunidade de ver que as pessoas Trans existiam, que estavam ali, ao vivo, se expressando e sendo julgadas como qualquer outro participante. Foi um passo inicial em direção à visibilidade, em uma época em que ser Trans era ainda mais desafiador do que é hoje.
Hoje, ao nos despedirmos de Silvio Santos, não podemos deixar de reconhecer essa faceta de seu legado. Ele foi um comunicador à frente de seu tempo em muitos aspectos, e sua contribuição para a representatividade trans, mesmo que indiretamente, deve ser lembrada. A televisão brasileira perde um ícone, e a comunidade trans, um dos primeiros espaços onde pôde ser vista e reconhecida, ainda que de maneira inicial e tímida.
Que seu legado inspire futuras gerações a continuarem lutando por mais visibilidade, respeito e igualdade para todos, independentemente de sua identidade de gênero.
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