05 novembro, 2013

Luana Muniz a sucessora da Madame Satã na Lapa


Cristine Gerk 
Blog o Dia - Rio de Janeiro

E atende por muitos nomes. Afinal, são muitas facetas. Com títulos como Rainha da Lapa ou Mãe Luana,  é capaz de “ir à missa de dia, ajudar mendigos na hora do almoço, dar lição em abusado de tarde e bater ponto à noite”. Luana Muniz, travesti conhecida como a nova Madame Satã do Rio, tem imóveis na Lapa, onde aluga vagas para cerca de 20 “meninas”. Usando seus dotes de atriz, circula em qualquer meio social e político. Preside a Associação de Travestis, que recebe verba até de atrizes da Globo e tem mais de 100 associados. Com 43 anos de “calçada”, Luana também capricha “em perder a classe” quando “necessário”.



Luana começou na ativa muito nova, pois “queria ter liberdade e tinha personalidade forte”. Adotada, tinha pai militar e mãe empresária em Vista Alegre, no subúrbio. Morou 32 anos na Europa, indo e vindo. Atualmente faz espetáculos sob encomenda ou convite, em qualquer tipo de evento, de casamento a velório. “Sou uma show-woman-gay. Danço Vivaldi, me transformo em Pomba-gira, imito diva pop. Tenho figurinos europeus de até R$ 30 mil. Sou uma ‘puta atriz’”, brinca. Toda noite faz ponto na Lapa. “Posso entrar com R$ 20 e sair com R$ 20 mil, é um negócio, sou comerciante”.

Com nacionalidade italiana, Luana fala e lê seis idiomas e adora cozinhar, mas alguém tem que deixar tudo picado antes. Não pretende deixar as ruas tão cedo. “Até de bengala vou. Não quero nem pretendo que me aceitem, só que me respeitem. Não sofro preconceito, sofro é despeito. Vou chegar à Broadway”, garante ela, que tem uma loja na Mem de Sá.

A Rainha da Lapa não se considera a nova Madame Satã, que conheceu pessoalmente, porque “não é baderneira”, mas vê semelhança em sua preocupação social. “Família não quer saber de gay feio, pobre ou doente. A gente ajuda, paga médico, aconselha, encaminha para abrigo. Sou contra prostituição infantil e drogas”, conta ela, que também é agente de saúde. Foi uma das fundadoras do projeto Damas, da prefeitura, que ajuda a capacitar profissionalmente transexuais e travestis. “As mais discriminadas são as lésbicas”, revela. Seu casarão é administrado por uma lésbica e protegido pelo gato Mimoso, que segundo Luana, também é gay. Mas a Lapa está se tornando um ambiente perigoso para a diva. “As lideranças daqui têm me pedido ajuda. É muito assalto”, reclama.

Luana já foi personagem de muitos filmes e teve ensaio fotográfico exposto em Nova Iorque. Apareceu no programa da TV Globo ‘Profissão Repórter’, dando um corretivo em um possível cliente. “Ele tirou onda comigo. Já sofri muito preconceito e violência. Fui amarrada em poste. Sou especialista em me defender”, explica ela, que resolve muita briga na área, na conversa ou na marra. “Aprendi a ser mulher com as mulheres, a ser homem com os homens, mas sou travesti por excelência”.

1) O QUE FAZ O PROJETO DAMAS?
Cria oficinas de capacitação para transexuais. Há informações em smsdc-esfpoprua.blogspot.com. O projeto atende 20 pessoas por 4 meses.

2) HÁ MUITA PROCURA?
Segundo Luana Muniz, 80% dos travestis são bem-sucedidas e organizadas e 90% querem trabalhar na rua. Mas os outros 10% precisam de ajuda pois sofrem preconceito.

3) O CUSTO DE VIDA É MAIS CARO PARA TRAVESTIS?
Segundo Luana, sim. Ela conta que vendedores e locadores cobram mais caro porque elas são de “vida fácil”.

4) QUEM FOI MADAME SATÃ?
Transformista brasileiro, personagem emblemático da vida noturna e marginal carioca na primeira metade do século 20. Sua história virou filme.

5) O QUE FAZ A ASSOCIAÇÃO DE TRAVESTIS?
Além de ajudar os necessitados, organiza shows e eventos beneficentes. Metade dos associados é beneficiário e não contribui.

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