A realizadora da trilogia «Matrix», Lana Wachowski, revelou, ao receber um prémio da Campanha de Direitos Humanos, em São Francisco, que chegou a escrever uma carta de suicídio destinada aos seus pais. Wachowski decidiu assumir a transexualidade em 2002. Até então, ela vivia como um homem chamado Larry.
Num longo discurso, contou todo o preconceito que sofreu desde criança. Na escola, ela tinha cabelos compridos, costumava brincar com as meninas e todos os alunos da escola pública onde estudava usavam calça jeans e t-shirts.
As coisas, no entanto, pioraram quando ela foi transferida para uma escola católica, onde as meninas usavam saia e os meninos, calças. Lana, então Larry, teve de cortar o cabelo. Numa certa manhã, meninos e meninas foram divididos em duas filas distintas. Sem saber para qual fila ir, Wachowski ficou parada entre as duas e acabou por levar um raspanete de uma freira que cuidava das crianças.
A realizadora, que dirigiu a trilogia de sucesso ao lado do irmão, Andy, disse que escreveu a carta de suicídio aos seus pais na adolescência porque queria convencê-los de que não tinham culpa por ser transexual. Decidida atirar-se para a frente de um comboio, só mudou de ideias porque um senhor apareceu e encarou-a por um longo período. «Eu não sei por que ele não parou de me olhar. Tudo que eu sei é que, por causa disso, eu estou aqui», disse.
Ela contou ainda que uma voz na sua cabeça dizia-lhe: «Eu sou uma aberração, há algo de errado comigo, por isso eu nunca serei amada».
Wachowski afirmou que tinha muito medo de falar sobre isso em público, de ter de «confessar» coisas sobre a sua vida num programa de TV, de ter de lidar com as lágrimas do apresentador. «Estou aqui porque quando eu era jovem, eu queria muito ser escritora, eu queria ser cineasta, mas não encontrei alguém como eu no mundo e parecia que os meus sonhos foram impedidos simplesmente porque o meu género era mais incomum que os outros».
Casada com uma mulher, que a realizadora não revela o nome, disse que com o tempo descobriu que poderia ser amada não apesar das diferenças, mas por causa delas.