Por Marcelo Soares
Márcia Gadelha, 46 anos, é pedagoga e cerimonialista da Câmara Municipal de João Pessoa, sua história poderia não chamar a atenção de ninguém se não fosse por um detalhe: ela ser transexual, e, ainda, estar esperando para fazer a primeira cirurgia na Paraíba pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de mudança de sexo. Mas não é esse ângulo que o documentário O Diário de Márcia (20 min.) mostra, mas, sim, a visão de vida da pessoa por trás do fato.
Dirigido por Bertrand Lira, o filme completa uma trilogia sobre a intolerância sexual, juntando-se ao curta Homens (2008) e o longa O Rebeliado (2009). Contando a história da personagem em uma narrativa em primeira pessoa, em um tom realmente de diário, o curta retoma momentos da infância, adolescência e fase adulta de Márcia, onde conhecemos suas dificuldades tanto em se aceitar como uma mulher em um corpo masculino quanto das pessoas ao se redor também aceitarem isso.
A narração de Márcia é provavelmente o grande trunfo do filme, pois, assim, somos transportados para sua mente, sua forma de avaliar o que passou, desde violências físicas a psicológicas a busca por respostas para si mesmo. No filme a personagem se mostra como alguém geniosa e performática, se tornando em alguns momentos perceptível como ela encena para a câmera seus gestos, falas e discursos, como uma diretora se auto-dirigindo. Porém, nada que atrapalhe a obra, na verdade, dá até um charme a mais para discussões sobre até onde o personagem de um documentário não é também o seu diretor.
Aliás, outro momento feliz da obra é a sua própria reflexão sobre como construí-la, ao vermos Márcia em sua casa à mesa com a equipe de produção do filme discutindo como ela quer ser mostrada. Apesar de os pontos ressaltados por ela que mais queria ser colocada (a trabalhadora em detrimento do olhar mais sobre sua vida religiosa dentro do candomblé) se vê em menor quantidade.
O Diário de Márcia é um filme importante por mostrar o lado humano por trás da figura de um transexual, transformado muitas vezes em um simples estereótipo rejeitado pela sociedade. O filme tem o apoio do Sebrae-PB, Núcleo de Produção Digital (NPD-PB), Aliança Francesa, Pigmento Cinematográfico e é uma produção do coletivo Filmes a Granel.
Ficha Técnica
Direção, argumento e roteiro: Bertrand Lira
Produção Executiva: Heleno Bernardo
Direção de Fotografia: Leandro Cunha
1º assistente: Eduardo Lins
Som Direto: Daslei Ribeiro
Som adicional :Bruno de Sales
Edição: Daslei Ribeiro
Animação: Diego Brandão
Finalização: Ely Marques
Still: Thomaz Rodrigues
Assistente de direção: Líbia Cecília Bandeira
Assistente de produção: Isa Albuquerque
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